30 de novembro de 2009

Inesquecível!

Depois de voltar para casa reencontro amigos que vem me perguntar: Aí como foi lá no Hutuz? Eu tento expressar a forma mais simples de tudo o que aconteceu e o que eu vi, mas não consigo colocar em poucas ou uma palavra sobre essa celebração que aconteceu ao fim de semana passada. Ás vezes eu acho que foi algo que sonhei, aquelas que você fala que tudo realmente poderia ter sido verdade. Fica muito confuso em sua cabeça. Diversos pensamentos vão e vem.
Mas tudo eu tento passar para aqueles que ouvirem ou lerem tentem saborear esse momento que foi especial para mim. Particularmente eu tentei aproveitar cada momento que ia nascendo no decorrer da passagem no Rio, tentei observar a estrutura e armadura que estamos criando com cada apresentação que vem acontecendo, uma mais importante que a outra que por alguns segundos o torna mais que uma pessoa simples, mas relevando que tudo é passageiro e assim você volta a sua realidade e tentar ser você mesmo novamente para não ter a intenção de querer pisar nas nuvens.



Já na saída de Brasília já foi crescendo um momento marcante, encontrar um grande amigo o RAPadura chegando atrasado para o check in e desejando sorte para “nós” por que não só o Ataque Beliz iria fazer apresentação. Onde ao decorrer do vôo ficamos conversando sobre produções, homenagens, manifestações e parcerias. Um grande amigo que merece toda atenção quando estiver por perto, onde merece o respeito por ser um artista com talento mais que merecedor e reconhecimento pelo seu trabalho.

Mesmo apesar de ficar esperando a van que ia levar a gente direto para o Canecão durante 40 minutos, nada veio a chegar a tirar a nossa paciência, nem o calor de 35º graus que fazia no aeroporto Santos Dumond veio a irritar e confesso que se não fosse direto para passagem de som, apenas iria deixar as malas no Albergue e seguia o caminho da praia, mas primeiro as prioridades depois a diversão.
De tanto já ter tomado surra com problemas de produção que fazem ao contratar nosso show, pela primeira vez realmente me senti tratado como um artista. Não só pelo fato de chegar de van ao local e ter um camarim com o nosso nome na porta, mas sim pelo o fato da Equipe da CUFA está sempre disponível e atento a qualquer coisa que fosse pedida, toda a preocupação fazia parte e muita disposição do pessoal que pelo olhar você conseguia perceber o receio de jamais pensar em fazer algo errado com qualquer coisa que se acontecia naquele dia, afinal era 10 anos de Hutuz e todo o foco da cidade estava voltada para essa noite, por que era uma celebração da música negra e muita gente importante ia aparecer para prestigiar, apresentar e receber prêmios.
E por falar em artista é até engraçado falar sobre isso, por que eu mal encontro um por aí, e caminhar pelos bastidores e encontrar o camarim com o nome do Netinho de Paula, Caetano Veloso, Sandra de Sá é algo diferente para mim, por tem alguns que respeito e admiro o potencial e trabalho e ver pessoalmente você fica literalmente sem reação para não fazer o papel de fã, mas como controla isso? Tem que ser bem centrado e com foco na apresentação.

Na passagem de som fiquei feliz por ver que o Canecão era realmente como expressavam um lugar amplo, com mesas reservadas e uma equipe de qualidade tentando te dar toda atenção e querer resolver qualquer problema que estaria sendo causado naquele momento. Sei que tudo tem horário e conosco não foi de menos e assim que chegamos uma pessoa tomou a frente e disse que o mapa de palco estava com eles e já estaria montando a nossa estrutura. Na passagem de som foi como pit stop em Fórmula 1 coisa rápida de no máximo 10 minutos depois de ter montado todo o formato do show. Tudo perfeito na passagem de som e uma surpresa ao final, onde um dos técnicos do som disse que mais cedo Sandra de Sá e Dudu Nobre também passaram o som, ou seja não era só o Ataque Beliz que iria apresentar naquela noite.

Quem é artista sabe que isso é quase impossível. Ter um espaço para você poder ficar a vontade e guardar a ansiedade, mas vi que a coisa era feita com qualidade e ao chegar no camarim me deparei com uma porta que estava escrito o nome da banda nela onde todos se olharam e disseram “ohhhhhh” com aquele ar de surpresa por ver que realmente estávamos sendo tratados como merecedores dessa celebração e da vitória do RPB Festival. Onde dentro tinha dois sofás, espelho e ainda uma armação para colocar roupas que iriam ser usadas na apresentação. Ficamos por lá durante um bom tempo, mas sempre os organizadores batiam na porta e perguntavam se estava tudo bem ou se queríamos alguma coisa. Nisso eles entregavam refrigerantes, lanches, salgados, doces para degustar a vontade e sempre que tudo era acabado ia sendo reabastecido novamente.

Muita conversa ia rolando no nosso camarim e uma coisa começou a deixar a gente preocupado, por que fomos direto ao Canecão e nem passamos no Albergue para guardar as malas e ainda tinhamos bolado um roteiro para ir a duas lojas que gostaram da nossa música e formaram uma parceria em investimento de acessórios para o show que era o pessoal da marca Rei de Copas e da Jonny Size do Marcelo Falcão vocalista da banda O Rappa, mas olhamos no mapa e os endereços mostravam que o mais próximo era Rei de Copas que ficava praticamente ao lado do Canecão, o da Jonny Size era distante demais para pode ir, até poderia senão estivesse quase em cima da hora de rolar a apresentação e outra, horário de pico na cidade é tenso sair para chegar na hora marcada e por isso entramos em contato com a marca e eles oferecem de ir deixar lá.

Sei que chegava o momento do começo da festa, pelo menos era o que foi dito que ia rolar abertura a partir das 19:00, mas as 19:00 ainda eles estavam ensaiando a abertura e isso me deixava ansioso e por um tempo começou a aumentar a correria nos bastidores e ficamos no camarim na expectativa de alguém da produção aparecer e dizer que era o momento para subir no palco. Mas durante um bom tempo isso não aconteceu, por um lado ganhamos tempo e as roupas da Jonny Size e da Rei de Copas chegaram e fechou a única preocupação que estava martelando na nossa mente.

No grande momento, uma moça bateu na porta e disse que em 7 minutos iríamos apresentar-se, na mesmo segundo veio aquele momento que tinha já esquecido, que era de as mão começarem a suar, um frio na barriga e garganta ficar seca, coisas só acontecia nas primeiras apresentações, coisas que já fazem quase 11 anos que jamais tinha sentido e com as palavras da organizadora ligou novamente o botão da ansiedade. Estava tudo pronto, só precisava ser chamado mesmo, guitarra, baixo, baqueta, discos e notebook nas mãos seguimos rumo ao palco onde ficamos do lado direito ao fundo da cortina para esperar o chamado da Nega Gizza para mostrar o show. Nesse momento o que apenas ficamos foi esperar a chamada e enquanto isso dava para ver os olhares atentos a apresentação e de longe conseguia ver celebridades presentes como Quitéria Chagas, Sérgio Loroza e Regina Casé e uma que passou do nosso lado e desejou toda a sorte para abertura da festa que foi ex-atleta Robson Caetano que também ia apresentar um prêmio. O engraçado foi Mulumba Tráfica dizendo: Cara o Netinho de Paula estava do nosso lado e eu nem fui falar com ele! Nem eu tinha visto isso, mas acho que se tivesse não iria manifestar tal emoção, acho que isso dever ás vezes irritar dependendo do momento, poderia até cumprimentar, mas nada de muita importância.
Tinha apenas um foco, fazer um bom show para o público que era de imensa responsabilidade. Pode contar pelo o fato de serem todos artistas e como o público da periferia já foi ganho o respeito por respeita a luta diária do cotidiano, agora precisávamos mostrar isso a quem caminha na mesma trilha que a nossa. Enquanto Nega Gizza apresentava o prêmio como melhor produtor, a equipe do palco ia puxando bateria e teclado para um lado, guitarra e DJ para outro eu ia para o canto e com isso tentava me concentrar no que acontecia em breve. Fiz a volta e entreguei uma água ao DJ Gus que estava sozinho por lá e com isso disse a ele que estava nervoso, com isso um cara da equipe técnica me disse: “Cara nem precisa ficar. O melhor você já fez que foi ter vencido o RPB, agora vai lá e mostra a quem ainda não sabe por que vocês são os primeiros!”. Foi um dos melhores conselhos que já ouvi.Peguei o microfone sem fio, abaixei a cabeça, agradeci a Deus por todo esse momento que Ele me proporciona e que me dê forças para lutar e mostrar o melhor que existe em mim.






Quando a Nega Gizza anunciou a banda, ouve um breve silêncio que foi interrompido por Higo Melo com um curto discurso que deu início à apresentação na formação DJ e MC. Eu segui o ritmo que a música pedia e atendi o pedido do DJ Gus que pediu para focar em todos e se jogar de um lado para o outro no palco, olhado nos olhos de todos que estavam à frente e foi o que eu fiz. É engraçado como o filme passa rápido na sua cabeça enquanto você está cantando por que você presta atenção em quem assiste e em suas expressões faciais. Lembro de ver a cara do Caetano Veloso olhando frio como se não tivesse interessado muito pela música e ao seu lado estava o Sérgio Loroza com um sorriso na face e junto com ele Toni Garrido atento a música e movimentando junto no compasso da batida. Tudo estava saindo da forma que imaginávamos, eu olhava os meus amigos tocando e todos na mesma empolgação por ver que estava saindo tudo certo e a mesma energia estava sendo passada para cada um e com isso movimentando algumas pessoas da platéia e até pessoas que soam bastante conservadores. Sei que é complicado a quem ler isso tentar sentir o que eu senti na hora da apresentação, foi muita emoção fazer esse show e ver que pessoas que sou fã ou apreciou como Racionais Mc’s, GOG, Emicida, Toni Garrido, RAPadura, Sandra de Sá sendo expectadores da nossa música não tem palavras que define esse momento.

Depois de fazer um bom show de apenas uma música era hora de correr, desmontar os equipamentos, guardá-los e trocar de roupa para assistir a premiação onde fiquei feliz ao ver pessoas como Lívia Cruz, DJ Raffa e Atitude Feminina receber prêmio, assim também fiquei ao ver meu amigo RAPadura levar o prêmio como revelação do norte/nordeste e criticar a quem o define por sua roupa e bater palma pelo rap-embolado que fez assim que recebeu o troféu. Moral também foi ver GOG levar dois prêmios e um deles ele convidar o Ataque Beliz, DJ Marola e o RAPadura para subir junto para recebê-lo e nisso recitar “Brasil com P” e deixar a platéia eufórica com os versos onde até ao meu lado Quitéria Charas que fez a entrega queria saber se um curso poderia virar MC e eu apenas respondi que precisaria de vivência, inspiração e fazer por amor para ser um grande poeta.

A noite foi realmente marcante. Coisa que não quero esquecer, coisas que quero contar para minha filha sempre e que ela conte aos meus netos e por aí vai mantendo sempre a energia positiva que senti. De ver tantos grupos importantes, celebridades e referências nos esportes juntos e até ás vezes ao lado e ver que todos são como nós, pessoas. Algumas simples, outras estrelas, mas são pessoas que são julgadas pelo seu talento e valor como pessoa. Como Netinho de Paula que encontramos nos bastidores e veio cumprimentar e dizer que adorou nossa música e que tinha recebido o nosso cd e viu que temos altura para poder competir com os leões da música. Toni Garrido também gostou do show, achou bacana a fusão DJ e Banda e desejou toda a sorte do mundo, são esses detalhes que marcam em nossa memória.
Como disse no twitter, nunca fui num Hutuz, mas para mim esse foi o melhor de todos por eu ter assistido, apreciado, apresentando e sido elogiado por músicos que admiro e visto que nada é simples, que sonhamos acordados e com isso conseguimos chegar em lugares jamais fantasiados.

Bom, acho que isso resume o grande show!

Boa semana!

2 comentários:

Jaqueline disse...

olha meu amigo ficannndoo famoooosssssssssssoooo!!hehehbeijinhosss lindinhoooo!

Nega do Leite disse...

Ei!
Coisa de gente grande! Lutaram e são merecedores de tudo que está acontecendo. É ter pé no chão e sonhar alto com garra.
Adorei o texto, foram mais detalhes que eu supunha...rs.
Abraços

 
©2011 BENJAMIM Por Anderson Maya